18 março, 2007

Aaeb


Ele se chama Aaeb. Viajante novo messe percurso estranho, entusiasmado por possibilidades tolinhas, como o dom de voar ou digerir bibliotecas inteiras em poucos minutos, me deixei levar por visuais incríveis de um mundo de prevalência de cores não usuais. procurei alguma coisa assim na literatura fantástica, mas vi muito pouca coisa, mais nos espanhóis e, curiosamente, nos de língua hispânica. mas, como disse, por desconhecer essa história toda, cometi erros primários.

no meio dessa madrugada tive um sonho estranho, em tons de rósa e púrpura, com castelos, cavalos e possíveis reinados. depois, em cenas de um preto e branco tão vívido e luminoso que quase não posso olhar, veio a sequência da cadeira. e, entendi por fim, que estava numa sala pequena e suja de uma dependência correcional. primeiro achei que estava preso, mas logo entendi que tinha sido convidado àquele lugar para prestar depoimentos e ouvir o que Aaeb tinha feito nas horas anteriores. confesso que me lebrei dos jogos de RPG que visitei e abandonei por considerá-los muito fracos)

a cabeça ainda confusa por um certo torpor alcoólico resistiu, impondo uma não clareza que me impedia de perceber. o homem à minha frente, magérrimo, bigodinho fino, óculos escuros de camelô e um cigarrinho fedorento e sem filtro, com uma pasta cheia de documentos datilografados, me explicava primeiro calma e indolentemente o que eu fazia ali. entretanto ele achou que minha incapacidade de apreender os fatos estava ligada a uma certa malandragem (com a qual ele estava tão acostumado a lidar) e isso foi minando sua parca paciência.

- Aaeb está preso porque, embriagado numa casa noturna, agrediu 3 policiais que tentavam colocá-lo para fora. depois, na companhia de uma moça de não mais que 14 anos, incomodou os moradores de um pequeno prédio no subúrbio com os gritos que ambos davam durante um coito desesperado. Fomos chamados e ele não se entregou pacificamente, sendo necessário 6 homens para imobilizá-lo. Ele estava drogado e lutava por 3. Para completar, diante a visão dele subjugado, a menina cortou um dos pulsos, obrigando-nos ainda a socorrê-la.

Sim, eu entendia toda a narrativa, queria saber é porque eu estava ali, naquele momento, no meio da madrugada. o que eu tinha a ver com atitudes de pessoas meio vândalas pela cidade. afinal, não conheço ninguém que tenha esses comportamentos e se conheço, elas não me dão mostras de serem assim. então... por que eu?

- Porque Aaeb é o senhor - respondeu irritado o franzino escrivão.
não demorou muito para que eu começasse a entender a história toda, ainda que não concordasse com o rumo que as coisas tomavam, isso não fazia parte do meu jogo.
assinei por fim, 8 folhas de papel em que assumia a responsabilidade pelo que viesse a acontecer depois e recebi um cd room, com as informações adcionais que eu teria que tomar conhecimento e mesmo estudar, ao nascer do sol (hoje).

depois de rodar o cd em minha máquina, pela manhã, percebi que não me mostraram todas as regras. eu sequer registrei aaeb, dando-lhe esse nome (que ele mesmo escolheu para si) e tampouco tive a noção exata que nossos tempos são diferentes e que ele continua agindo enquanto eu durmo porque o programa não roda no meu pc (está baixado nele), roda naquele mundo e não neste.

enquanto lia o jornal, pensei que esse jogo não tinha nada de novo, que baudrillard falou dele em 81 e vinte anos depois a trilogia matrix levou às telas, essa história, essa possibilidade, o que foi encarado por todos como ficção. todos não. eu conheço uma menina que, desde o primeiro episódio do matrix, me alertou que aquilo era verdade. quase dez anos depois a coisa se apresenta a mim e eu resolvo jogar, mas estou bloqueado a entender o real significado dessa possibilidade.

dou uma olhadela em alguns livros e, surpreso, encontro em Paidéia e suas mitologias e histórias truncadas, sua forma erudita de confundir e ser maçante, sim, lá encontro pistas esparsas de como a formação se dá, como os homens se misturam em paralelos que não têm conotação lógica sob um olhar mais desavisado. telefonei hoje de manhã para sílvia, professora de mitologia grega para tirar algumas duvidas, mas logo percebi que ela responde mecanicamente, academicamente, a questões que estão postas no meu dia a dia.

essa é uma longa história que vou tentar contar por aqui....

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